terça-feira, 25 de maio de 2010

Artes Vivas


Escrever é um caminho que abre caminhos. Hoje estive no Artes Vivas, no espaço Bahia. Comemorámos mais um aniversário do continente africano; estava lá a malta toda (excepto a que não foi, claro!), pessoal do Artes Vivas, Lev'arte e Prais'Arte. Fantástico!
O encontro começou com música, infelizmente perdi o nome da banda - mas os gajos são bons a sério - depois o anfitrião (Lukeny, que diga-se de passagem, vai lançar um CD no dia 6 de Junho na praça da Cultura) fez um rodízio de bons poemas e alguma spoken word de grande qualidade (valeu Ludmila) e os dois manos do Lev'arte declamaram o meu poema preferido: Ainda... No meu sangue! Outro mundo!!!
Depois entrou a Lueji para fazer uma mesa bicuda, mas como o madié que lá deveria estar não apareceu, apareci eu, e falamos, e trememos, e falamos. Eu olhava para ela em busca de encorajamento, e ela tremia. Ela olhava para mim, eu era como uma cana açoitada pelo vento: Ainda... gotinhas do meu sangue...
Mas falamos. Não precisamos ser perfeitos, vencemos os nossos medos enquanto fomos falando, perseveramos, dominamos a nós mesmos e continuamos a lutar, certos de que o medo não vai embora sem que nos disponhamos a manda-lo embora com os primeiros passos. Valeu Dharma, tens uma alma e tanto! Obrigado malta, obrigado mesmo...
Ainda...
No meu sangue
Já disse e repito: estes movimentos têm muito a dizer... Vocês pensaram e agora está a acontecer;
Todos podemos chegar lá: Tudo começa e se define na mente: Nada mais, nada menos

A força de um sonho


Quando penso em sonhos, penso sobretudo em Moisés o líder gago (e incapaz) trazendo a nação israelita do Egipto, em Martin Luther King dizendo I have a dream; Vejo Jesus Cristo enviando um punhado de pescadores e gente mal encarada (como dizem) para mudar o mundo, para espanto do próprio mundo, já tão habituado a Currículos, Diplomas, etc. etc. e porque não falar dos nossos valorosos heróis do início da luta armada, lutando com catanas, letras e cânticos, em busca da independência de Angola? Sonhar é bom. Tudo começa com um sonho. Alguns dos sonhos, que têm a missão de animar os nossos próprios sonhos, muitas vezes são mal entendidos, e em vez de serem fonte de energia transformam-se em fonte de desânimo, é que nós acabamos olhando mais para as nossas impossibilidades do que para as possibilidades; olhamos mais para a nossa realidade actual do que para a grandeza do que pode sair, e... escondemos os nossos sonhos apegando-nos a uma vida que no fundo sabemos que não é a que gostaríamos de viver.
- Sonho? - nos perguntam as pessoas que também já abandonaram os seus - isso tem algum valor? - e os seus argumentos são mortíferos - no nosso país?
Embora algumas vezes fiquemos sem argumentos para contrapor tais colocações, o mundo está onde está graças aos sonhos dos que sonharam. Bons ou maus sonhos nos deixaram como estamos, quem sabe os nossos sonhos não melhorem o mundo por vir?
Quando eu penso na força de um sonho, penso particularmente no dia em que o profeta Elias (na Bíblia Sagrada) decidiu orar para que houvesse seca e Israel. Depois de algum tempo ele decidiu que já era tempo de voltar a chover. Então decidiu orar por isso. Orou por algum tempo e sempre foi mandando o seu ajudante para ver se algumas nuvens já se haviam formado no céu. Depois de repetir este ritual por mais de seis vezes, o ajudante voltou dizendo que não havia grande coisa no céu, apenas uma simples nuvem do tamanho da mão de um homem. Era apenas isso...
O profeta então disse que naquela mão de um homem vinha uma grande tempestade. Nada mais, nada menos: E quem conhece a vida em Luanda sabe como é que as chuvas são.
Os sonhos têm o mesmo efeito, eles nunca são grandes o suficiente para impressionar, mas os seus efeitos são sempre estrondosos. Na verdade, um sonho, tal como uma semente, não precisa ser grande para que o fruto também seja grande. Um sonho é uma semente no coração do homem/mulher. A nossa responsabilidade é reconhece-lo, aceita-lo e trabalhar na sua vida para realiza-lo. Isso pode levar tempo, não faz mal, desde que o tempo não seja gasto em procrastinação. O sonho tem poder. Creio que quando alguém pergunta a Deus a solução para o nosso mundo em crise Ele aponta para os nossos corações, onde Ele plantou bons sonhos para o bem de todos. Acredite no seu sonho, lute por ele. Não copie os sonhos dos outros, a sua contribuição fará a diferença. Não podemos ser todos como são os outros, na verdade, o mundo só perde quando passamos por cima de nós mesmos para tentarmos ser outras pessoas. A solução para o mundo pode estar guardada no sonho que temos. As nuvens por si não têm muita força, mas quando elas soltam aquelas gotas minúsculas, sabemos que aí vem azar. Que venham as bonanças para mundo, através da realização dos nossos sonhos. Por favor, lute pelos seus sonhos, não os despreze. Junte-se a realizadores de sonhos e força!
Um sonho pode mudar o mundo... e o nosso mundo precisa de bons sonhos, quem sabe, o seu não é um destes?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma história de amor à procura de um final feliz


Ando a tentar recuperar-me do vício de comprar livros, mas enquanto ele não passa vou juntando aqui e acolá algumas peças escritas. Foi o que aconteceu mais uma vez. Na semana passada fiz uma das minhas mais recentes aquisições: foi nem mais, nem menos o livro da Lueji Dharma Um romance à procura de um final feliz. Muito bom livro: uma miúda apaixonada abrindo o seu coração e fazendo-nos sofrer com ele, fazendo-nos viver um romance que não tem nada a ver connosco. A miúda sofre por amor, mas no fim triunfa...
O estilo dela é surpreendentemente agradável, viajamos de um passado para o presente e de repente, o texto migra para um novo presente, mais longíquo, um pouco sofrido. Quando se chega ao fim, a pergunta é: porque que ela fez-me viver com tanta intensidade se já sabia que a história acabava assim?
Vale à pena ler (de preferência antes de se morrer), além do conteúdo ele é bastante instrutivo em termos de estilo e arte. Arte não se imita (acho), pois, quando alguém tenta isso, ela se transforma em ciência, e nem sempre a ciência tem fluidez, contudo, ninguém pode queixar-se de não ter material para ver como é que as coisas na arte acontecem.
Gostei da arte com que ela compôs a narrativa,
Gostei da poesia que pelo que me parece está em todos os textos, há como que, uma "subentendência" da mesma. Um texto altamente. Já falei dele à Sónia Gomes mas ainda não disse nada ao Flávio Gaspar, meus confidentes em termos de romances.
Obrigado Dharma

sábado, 15 de maio de 2010

Dois é melhor do que um


Escrever é uma actividade (quase) individual. Cada escritor precisa esconder-se para escrever. As melhores ideias até podem ser criadas no convívio com outros mas são melhor escritas no isolamento. Creio que o facto de estarmos sozinhos pode ser assustador, mas não há saída para o escritor, senão o isolamento.
Também creio que há um momento em que o nosso texto precisa sair da nossa alçada. É quando estamos desanimados com ele ou quando estamos satisfeitos com ele. Nesta altura o nosso desânimo pode ser minimizado pelas palavras carinhosas de um amigo que entenda de textos. E a nossa satisfação (que sempre é boa) pode ser temperada também pelas palavras de bons amigos. Neste ponto a ajuda de outras pessoas pode ser a chave para o sucesso.
Experimentei isso em duas situações recentes: quando lancei o meu livro "Você também pode ter sucesso" em Fevereiro deste ano e aquando da publicação do projecto com a Ivandra Ferreira "Cartas a um viciado". No livro do sucesso, cheguei à conclusão que se quisermos algo grande, podemos faze-lo sozinhos. Mas não conseguiremos algo enorme se não tivermos ajuda. Dois é melhor do que um porque possuem faculdades para usar que não estão disponíveis numa só pessoa, possuem ligações que uma só pessoa não tem, e com isso possibilidades ilimitadas.
O trabalho do escritor deve deixar o isolamento para tocar as almas prontas a contribuir que fazem parte do nosso leque de amizades. No feedback está a riqueza dos nossos próprios textos. Isso força o nosso orgulho a ceder pontos (por sabermos que nem todas as nossas ideias são realmente nossas) e nos ajuda a continuar a ser pessoas normais no meio dos nossos amigos.
Quem tem amigos tem tudo. O escritor que partilha os seus textos com os amigos, tem meio caminho andado para chegar onde não chegaria... sozinho.
Há esta linha de tensão que se não for observada apaga todo o trabalho de um escritor.
Dois é melhor, juntos, cada um consegue mais!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Você também pode ter sucesso


Existe a ideia
de que tudo o que é
Muangolé
Maiuia é
(gostei da rima)
Tudo bem...
...Mas,
e o CAN Angola 2010?
E os nossos títulos no Basquetebol Africano
As nossas equipas dão
Gosto e Petróleo
sempre que sai um
africano de clubes
Isso sem esquecer a nossa Gloriosa Selecção!!!
E por que não falarmos da nossa música?
- Patrícia Faria, Man Ré daqui, Man Ré dali! Oh nos matam, o kê
Nem tudo o que é *muangolé*
é maiuia,
a maka "nostra" que estamos com ela
está na mentalidade
Alguém disse que éramos muito *especiais*.
Precisamos ser na mente
o que queremos ver no ambiente
Então a questão é acertarmos os nossos pensamentos
Acreditar nos nossos sonhos
e ir à luta
Nos passos do dia a dia está o *sucesso*
O Sucesso é nosso por direito
é nossa obrigação
nossa condenação
e nossa responsabilidade.
Todos podemos ter sucesso
*Você também pode ter sucesso*
Yes you can!

Pedido de casamento


Se te casares comigo, meu amor,
Te prometo todas as galinhas do Waku Kungo,
Se apanhar os gajos da Aldeia Nova a dormirem
ainda roubo-lhes leite todas as manhãs, para que te não falte.
Te prometo cabeças de gado roubadas do Cunene,
Sei que há makas por lá, mas ladrão que rouba por amor
Merece compaixão, ou não, meu amor?
Se te casares comigo,
Prometo roubar todas as pedras bonitas das Lundas,
e usa-los como enfeites para o teu umbigo
e colá-los com beijinhos. Muam, muam, muam, muam, até se me gastarem os lábios
Se te casares comigo, prometo roubar petróleo em Cabinda
Para acender os teus candeeiros quando as luzes da minha voz apagarem e precisarmos de vela para eu curtir os teus olhos mais uma vez, ou me matam, ou quê…
Roubaria um carro a cada final de semana, só para tirarmos fotografias em carros de marca,
Conduzir não posso, as cartas que tenho tirei dum baralho: damas, manilhas, ases, reis e jokers, mas estas, a polícia de trânsito não aceita
E escafedi o dinheiro das multas
Se te casares comigo ainda que chova muito em Luanda
Prometo que não se quebrarão as pontes para os teus seios, nem gemidos nos meus ouvidos
E não me fartarei dos teus beijos nem dos teus unguentos
Prometo ser teu fã a cada dia, como se nunca tivesse havido um dia, e como se nunca viesse a haver novo dia.
Não iríamos às compras!
Nada de Roque, nem de Asa,
Nem de Catinton,
Nem daquela praça de nome feio onde as pessoas têm de abaixar – Livra!
nada de compras, só mesmo muito amor para partilhar…
Mas para isso,
Terias apenas de te casar comigo.
Só isso…

Artesãos da esperança


Estive no Prais'arte há pouco mais de dois meses (se a memória não me trai) e no Lev'arte ontem. Além de ter conhecido o pessoal ultra carinhoso dos dois lugares, ainda tive o privilégio de trazer um livro autografado pela Lueji Dharma. A noite foi um sucesso em termos de declamação e trago ainda algumas frases comigo:
- Ainda...
- Mulher...
- Nas ruínas da Babilónia
- O meu sangue...
Gajos porreiros aqueles! Uma noite aproveitada até ao fim.
O que vejo de louvável nestas iniciativas é que acredito que as mudanças vêm de coisas pequenas: um poema, uma música, uma trova, uma palavra carinhosa, um gesto encorajador, enfim, um toque humano.
Louvo os esforços destes tipos. Mesmo que às vezes se sintam desprezados, incompreendidos, ou solitários. Coisas pequenas, são mais fáceis de realizar e também mais fáceis de digerir.
Deus vos abençoe, o caminho é mesmo este