terça-feira, 17 de abril de 2012

Você também pode ter sucesso


Recentemente recebi sugestões para escrever dois livros no ramo da auto-ajuda. Um seria sobre feitiçaria, pois, segundo a pessoa que me fez a proposta, os jovens - e não só - encontraram nesta prática uma muleta para o sucesso instantâneo, não importando as conseqüências (que sempre vêm). O outro seria sobre o tipo de jovens que temos hoje e os que, de facto, Angola precisa para poder se desenvolver: esta proposta veio porque em todos os cantos encontramos Posters a anunciar a "Rav da Saia Malandra", a "Rav do Fecho Aberto", o "Encontro da mulherada", a "Noite do Swegg" (a propósito do Swegg já vi que cada um escreve do jeito que quer, e eu não sei como escrever) e por fim, os mais recentes dizem: "Noite do Tchuna Babe". Então todos os encontros têm em comum o bar aberto e também o facto de os homens pagarem mais do que as mulheres.

Até comecei a juntar ideias (tenho até um encontro marcado com um antropólogo para que ele me esclareça essa maka do feitiço) bem como outros tantos livros para ler a respeito e, claro, a vasta lista de pessoas que foram afetadas pelo feitiço, mas, aos poucos comecei a pensar que de facto o que temos na sociedade é a mania da fast furious: fast riqueza , do fast sucesso, fast sex, fast frutos sem contudo pensarmos em plantar, regar e cuidar. Quem nos ajuda muito a ser fasts e furiosos não são apenas os cantores de rap nos Estados Unidos, mas também os nossos showmans e showgirls: eles aparecem sempre com a barba feita, um copo a brilhar, um carro novo etc. Todos queremos isso e pra ontem, por favor!

Além de fasts e furiosos, também há uma mentalidade de vijú: quem mente mais, ganha. Quem conquista mais, é o maior. Quem rouba mais é o melhor, não admira que haja tanta gente a estudar direito (sem ofensas). Uma certa companhia telefônica, ajuda-nos a mentir usando o saldo que eles nos vendem, a isso chamam da a táctica do ambi, a táctica do vijú e enfim, as tácticas dos mentirosos bem sucedidos (lembro-me particularmente de 3 anúncios publicitários: no primeiro o irmão mais velho não quer partilhar a sua internet - que já é pouca e lenta - com a sua irmã mais nova e até diz: net?... O segundo há um jovem na rua a dizer para o chefe que ainda está reunido e por fim há o tipo no escritório que cola as fotografias da praia na parede...). O pessoal só tem que alinhar, porque a própria companhia de telefones ajuda a isso.

Mas desisti - pelo menos por enquanto - das duas ideias. A razão é simples: quanto mais me envolvo na ideia de juntar material para escrever mais me encontro a reescrever o livro "Você também pode ter sucesso" (algumas pessoas dizem "você também pode ter um sucesso", Deus as perdoe!). O livro fala sobre sermos responsáveis pelo nosso sucesso, coisa que todos sabemos, fala sobre sermos fiéis a causa do nosso sucesso, mas também fala sobre a maneira certa de buscarmos a nossa autorrealização sem comprometermos as nossas vidas em causas falhas, sem vendermos a nossa alma.

Escrever sobre feitiço e as bebedeiras só se fosse mais um capítulo no livro, mas não um livro inteiro. Posso acrescentar que quando os políticos usam a bebida para atrair novos eleitores nos dão a entender que deixar de beber é um ato anti-estado, um ato por meio do qual a sua popularidade irá diminuir. No entanto, um povo bêbado não tem muito futuro, porque os sóbrios, embora pareçam mais burros, estão acordados na segunda-feira bem cedo para ganhar dinheiro enquanto o bêbado perde dinheiro no caldo da ressaca.

Embora tenhamos boas ideias, quando o álcool e o feitiço entram na jogada nós perdemos o domínio das nossas vidas e ficamos a mercê da boa vontade dos outros. Temos uma sociedade em crise na qual o álcool e o feitiço nos parecem os passaportes para fugir da realidade, mas é nas crises que se moldam os povos. É em alturas como estas que devemos pôr a nossa criatividade em acção, devemos ver as crises como oportunidades para um nível acima, não como portas fechadas que nunca seremos capazes de abrir. Devemos ter em mente que "quando jovens eles querem mudar o mundo, quando kotas, eles querem mudar os jovens".

O livro não fala disso, mas apresenta dicas que, se postas em prática reduzem as chances do álcool e do feitiço, afinal de contas, você também pode ter sucesso: todos podemos.

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